Inventámos o amor para que a vida seja mais do que apenas uma existência confinada a nós mesmos. Dizer isto é uma mera banalidade, uma formalidade, mas o óbvio existe para que alguém o diga. Somos fruto daquilo que alguém pensa de nós, um outro qualquer, um deus talvez? Ao trabalhar sobre Ibsen aprendi muitas coisas que julgava já saber; aprendi a importância de compreender que vivo numa constante ilusão, que todos os dias da minha vida julguei desvelar, contudo ela ergue-se sem cessar na minha relação com o mundo e nos olhos dos outros. Para a frente ou para trás é sempre a mesma distancia, para dentro ou para fora o caminho é sempre estreito. A vida é uma grande curva e nós seguimos sempre em frente. Para a interpretação deste trabalho, convidei dois músicos, porque desejo construir uma peça musical, onde a narrativa, a poesia e a música se vão confrontar. Consigo também antecipar, o prazer de retomar a construção artesanal e infantil do espaço, que funcionará como uma casa de surpresas, ou quarto de brinquedos. Um espaço que suporte o desenrolar da vida do personagem de Ibsen, Peer Gynt na sua viagem ao encontro de si mesmo, procurando evitar que a sua alma se dilua num monte de lixo.
João Garcia Miguel, 2006